Hoje assistindo ao noticiário local soube que a polícia civil do Estado está em greve, e tristemente me lembrei de uma história que aconteceu em Porto Alegre - RS em 1991.
Eu trabalhava no dep. Pessoal de uma rede de lojas e a policia civil de lá também estava em greve reivindicando melhores condições de salário, etc, etc e tal..
Bom, eu era responsável pelo registro dos novos funcionários, e tinha uma menina, ela tinha no máximo uns 15 ou 16 anos, que eu havia registrado ha somente uma semana, eu fazia muitos registros semanalmente pq era uma empresa grande com mais de 15 lojas de departamentos e confecções; dificilmente eu me lembraria de alguém que tivesse registrado depois de uma semana, mas aquela menina era diferente, ela era linda, educada e tinha um jeitinho muito delicado.
Eu estava distraída com novos registros quando a menina apareceu na minha sala, ela estava acompanhada da mãe, a visão que eu tive naquele instante foi aterradora, ela estava com os braços quebrados engessados, com a cabeça enfaixada, dente quebrado, o rosto deformado. Eu estava tão perplexa com tanta violência junta que fiquei sem palavras, levantei e fui até ela, que mal conseguia falar, foi sua mãe que contou o que tinha acontecido com ela.
Ela trabalhava em uma das lojas de departamentos da Empresa e no final do seu dia de trabalho, seguiu como sempre fazia da loja para a parada de ônibus, mas nesse dia, ha três dias atrás, tinha sido diferente, dentro do ônibus ela percebeu que dois homens a olhavam insistentemente mas, inocente nem ligou, pois como era muito bonita, se acostumou com olhares indiscretos e insistentes ( e vocês sabem como as gaúchas são lindas). Bom, chegou o ponto em que ela tinha que descer, e eles a seguiram, e havia um terreno baldio e foi nesse instante que eles a atacaram, arrastaram-na para aquele terreno, espancaram-na e a violentaram barbaramente, quebraram seus braços, alguns de seus dentes, sua cabeça, ela desmaiou e eles achando que ela tinha morrido, abandonaram ela sua à própria sorte, ou melhor dizendo nesse momento, ao seu próprio azar.
Sua mãe estranhou seu atraso e foi atrás da filha, mas não a encontrou, passou todos os ônibus possíveis e a filha querida não chegou, Deus sabe o sofrimento que essa mãe passou a noite toda em claro esperando que alguém chegasse com alguma noticia da menina, mas foi tudo e vão, raiou o dia e ela foi ao serviço da jovem, talvez tivesse resolvido passar a noite na casa de uma colega e não teve como avisar, mas lá ela também não estava, perguntando pra um e pra outro descobriu que ela havia pego o mesmo ônibus que uma colega, então o que aconteceu, aconteceu na descida do ônibus, no seu bairro. É aí, que NÃO entra a polícia, pois a mãe desesperada procurou por eles, e eles disseram que não podiam fazer nada porque estavam em greve por tempo indeterminado. Ela voltou pra casa e não desistiu, reuniu todos os vizinhos e começaram a procurar por todos os lugares, um grupo entrou no dito terreno e não demorou muito acharam a menina, desmaiada e esvaindo-se em sangue, isso já era de tarde, ela foi levada para o hospital o que resultou na visão que descrevi a vocês ainda a pouco.
E o que mais me impressionou é que ela, com toda essa desgraça que aconteceu, estava preocupada em não perder o emprego, eu até tentei interceder por ela mas, a direção optou por reincidir o contrato, pois sua recuperação seria longa e demorada.
E ela nem pôde denunciar a violência que sofrera porque a Polícia Civil do RIO GRANDE DO SUL, estava em greve...
Eu rogo a Deus que nenhuma mãe, esteja passando ou venha a passar por algo parecido, porque a nossa Polícia Civil está em greve por tempo indeterminado...
E mais ainda, que aquela criança tenha superado aquele trauma e com o amor de Deus, tenha se tornado uma pessoa melhor que aqueles monstros que a atacaram...
Ela era só uma menina...
Ela era só uma menina...