sábado, 29 de janeiro de 2011

Aconteceu na Esquina Democrática em Porto Alegre.



No dia 08 de agosto de 1990, amanheceu parecendo que ia ser mais um dia comum, eu morava na parada 13 da Lomba do Pinheiro- Viamão, região metropolitana de Porto Alegre, e trabalhava bem no Centro da cidade, na av. Otávio rocha, entre a Rua vig.josé inácio e a Mal.Floriano Peixoto, estou descrevendo o endereço porque o que vou relatar aconteceu na esquina adiante de onde eu estava.
Bom, nesse dia, cheguei ao serviço e já soube pelo porteiro do prédio que estava acontecendo uma manifestação em frente ao Palácio Piratini, sede do Governo. Era um grupo de MST(Movimento dos Sem Terra) e soube que Brigada Militar (policia militar do RS ), estava de Alerta, me preocupei porque namorava com um soldado da Brigada e na noite anterior ele estaria de serviço, a manhã estava muito agitada, do nosso andar ouvíamos gritos, víamos correrias, as pessoas estavam com medo e qualquer sinal de turbulência elas corriam, e eu mais ainda porque meu namorado não ligava para me dar notícias. foi então que ouvimos outra correria, desta vez as pessoas gritavam horrorizadas, um grupo de militantes do MST que fugiam do confronto que se deu entre a Brigada e os MST na frente do Palácio do Governo, desceram a av. Borges de Medeiros com armas rurais nas mãos, eram foices, enxadas, facões, e bem na esquina da Rua dos Andradas, conhecida como ESQUINA DEMOCRÁTICA, eles encontraram um Brigadiano, VALDECI DE ABREU LOPES, de apenas vinte e poucos anos, alguns contam que Valdeci se apavorou e disparou contra eles, outros contam que Valdeci estava encostado na viatura esperando o companheiro que estava dentro de um prédio, o fato é que esse grupo o cercou e sem que ele tivesse tempo de reagir o imobilizaram e um deles cortou-lhe a garganta com uma foice, quando descemos para almoçar soubemos que todos os comércios estavam fechados e o porteiro nos contou sobre a tragédia, eu quase desmaiei, comecei logo a chorar porque Ademir (meu namorado), não tinha dado notícias ainda, estava tudo muito agitado, parecia que estávamos num campo de guerra, muitos policiais a cavalos, motos, viaturas por todos os lados, batalhão de choque, voltamos para o escritório e pedimos comida pelo telefone, já eram mais de 4 da tarde quando ele me ligou, pediu desculpas mas os oficiais os confinaram no quartel e o orelhão do pelotão dele estava quebrado, ele estava muito triste porque o rapaz morto era do seu pelotão e deixou esposa e filho pequeno, ele também me recomendou que não andasse só nas ruas, estava perigoso demais, a Brigada militar cercou o grupo que matou o soldado dentro da prefeitura e estavam rebelados, nem o Comandante geral conseguia dissuadi-los a sair de lá, então o exército mais a policia civil estavam cercando a Brigada militar que cercava a prefeitura... era um verdadeiro campo de guerra.
No final, prenderam o grupo mas nunca prenderam a pessoa que desferiu o golpe contra ele, ficou sim a dor de companheiros, amigos, da familia, da esposa e do filhinho que cresceu sem conhecer o pai. 
Se era um movimento pacífico, o que houve então? porque denegrir a imagem de um movimento que só buscava melhores condições de vida para os colonos? porque eu, desde esse dia, nunca mais olhei o MST como sendo um movimento pacífico e acredito que todos que estavam no centro de Porto alegre naquele dia, passaram a pensar como eu, e tudo isso aconteceu por ironia do destino, na ESQUINA DEMOCRÁTICA. onde estava a democracia naquele instante de barbárie? Onde estava pelo menos o Amor Cristão? agiram como mero animais, acho que nem como animais, apenas BÁRBAROS.
No ano seguinte eu voltei para São Luis, mas aquele dia ficou marcado, e quanto ao namorado? não deu certo, mas essa história vou contar outro dia...
Que Deus os abençoe.
Bjs.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

"Lar Doce Lar"



Outro dia, deitada me lembrei da nossa primeira casinha de aluguel...
Depois que meu pai se foi, nós perdemos tudo, até a casa, pois minha mãe não trabalhava e nessa época a Cohab tomava mesmo a casa dos inadimplentes e passava para quem saldasse a dívida.
Bom, o que sei é que passamos por trancos e barrancos, entre a ida da minha mãe para São Paulo e sua volta, moramos com tios, com amigos, e éramos sete crianças, mais a nossa irmã por criação e mais a nossa mãe, então seja qual fosse o grau de amizade, quem aguentaria tantas bocas a sustentar por tanto tempo? 
Foi então que a minha mãe apelou para os contatos politicos do meu pai (que na nossa cidade natal, no interior do Estado, era político), e um político (hoje famoso), se compadeceu da situação dela e fez uma indicação, e ela foi contratada pelo Estado. Era uma vitória muito grande pra familia, porque antes o final do mes chegava e ela não tinha nem um rendimento a receber, mas agora era diferente... minha mãe estava empregada!
Ela começou a procurar casa para alugar, coitada, eram caras as casas, levariam praticamente a metade do salário dela, nós estávamos morando todos separados, uns com uma tia aqui, outro tanto com outra tia ali, foi então que ela conheceu uma senhora que trabalhava no mesmo lugar que ela e que alugava umas casinhas de pau a pique e ela disse à minha mãe que estava construindo outra, mas ainda estava molhado o barro, minha mãe não pensou duas vezes e pediu que ela alugasse assim mesmo, ela concordou.
Lembro como se fosse hoje o dia em que nos mudamos, sabe aquele Clichê "Pobre não tem nada, mas quando a casa cai perde tudo"? pois é, a gente não tinha nada, mas o caminhãozinho do vizinho ficou cheínho de trecos...rsrsrs.
Mas, era uma festa, eu estava na carroceria do caminhão, o vento era mais puro, a cidade estava mais bonita, eu estava tão feliz, era uma casa só pra gente, sem ninguém vigiando pra ver se a gente ia quebrar alguma coisa, ou dormir a hora que queria, ou acordar a hora que queria, nossa!
Quando eu olhei a casa, era bem pequena e o barro ainda molhado cheirava tão bem, eu a achei linda, acho que tinha 2 metros de largura e 10 metros de comprimento, mas era perfeita! Eu corri ao redor da casa, tinha bastante espaço pra correr, o quintal era enorme, viveria altas aventuras na selva...lembra do EU, A PIPA E O BURRO? pois é, foi nesta casinha...rsrsrs
Só faltou a plaquinha dizendo "Lar Doce Lar".
A minha foi uma infancia muito difícil, mas do meu jeito, no meio das molecagens, eu tive meus momentos felizes...
E continuo tendo...e sei que a felicidade verdadeira só com meu Criador... e voce também pode te-la, basta crer!
bjs.

domingo, 16 de janeiro de 2011

"O MEU VALE DE BACA"



Amanhecí hoje chorando, faz dias que choro por tudo, choro lendo a Biblia, choro ouvindo musica gospel, chorei assistindo aos noticiários das cidades serranas, chorei no casamento de uma amiga que amo como filha, choro principalmente quando estou orando, falar com o meu criador ultimamente me emociona de uma maneira que não sei explicar, geralmente sou uma manteiga derretida, mas minhas provações têm me deixado mais chorona ainda, no dia 22 de setembro de 2010 às 08:30hs eu sofrí um acidente de trânsito, estava na garupa de uma moto e um carro bateu na gente, com o impacto fui impulsionada para frente e ao cair, todo o peso do meu corpo foi sobre o meu joelho esquerdo, desde então tem sido uma maratona de hospitais, médicos, consultas, e no laudo do ultimo exame deu que tive roptura completa dos ligamentos cruzados do joelho e lesão do menisco, por isso não consigo andar e por isso também terei que ser submetida a uma intervenção cirúrgica para a recontituição dos mesmos.
Bom, por essas e outras provas as quais Deus tem me submetido, eu tenho me sentido atravessando o Vale de Baca, ou o Vale de Lágrimas (Sl 84:5,6), em minha Biblia Presbiteriana encontro o "Vale Árido".   
O destino de quem passava por Baca era Sião, a passagem era obrigatória, Baca moldava os peregrinos que ansiosos por chegar à Jerusalém e ir ao Templo, se arriscavam no Vale. Baca era um vale muito árido e durante a sua travessia os peregrinos tinham que cavar poços para se reabastecerem, havia também os que, por misericórdia de Deus, encontravam os poços cavados por peregrinos que, por ali já haviam passado .

Este artigo define como me sinto, retirei de uma postagem da JORNALISTA E TEÓLOGA WILMA REJANE, em seu Blog "A TENDA NA ROCHA".

NOSSAS VIDAS E O VALE DE BACA

"Muitos de nós passamos por esse vale, alguns poucas vezes, outros muitas; alguns até vivem em Baca, porém; assim como nós passamos por ele, ele também se irá de nós.


Alguns necessitam de muito esforço para cavar poços e sobreviver, outros, nem tanto, desfrutarão em Baca do esforço que outros fizeram; estes, encontram os poços já cavados e cheios pela água da chuva. Em Baca também há poços cavados e vazios que se enchem de lágrimas, mas,nas lágrimas existem bálsamo que trazem conforto e também alegria: "Os que com lágrimas semeiam, com júbilo ceifarão"Sl 126:5.

Apesar da aridez de Baca ele pode se tornar uma fonte onde nos tornamos mais sábios, fortes, resistentes e confiantes. Aprendo que em Baca recebo sustento para alcançar Sião e que Sião representa todo e qualquer lugar onde se deseja chegar para receber vitória."


Tenho suportado a minha travessia por Baca por causa das promessas que Deus me fez, e uma delas é que ele só me dará o fardo, conforme eu possa carregá-lo, quando eu não tiver mais aguentando, sei que ELE virá em meu socorro.
Enquanto isso, na travessia encontro meus poços, alguns vazios, que é a falta que me faz o meu trabalho na obra, as dificuldades para me locomover, dependendo sempre da boa vontade de amigos e irmãos, não poder trabalhar por causa da enfermidade.
E os meu poços cheios, que é a solidariedade de meus irmãos em Cristo que me ajudam a manter a minha botija com farinha e óleo, sem secar. As orações dos ciclos da minha Igreja, as visitas dos amados irmãos, que confortam o meu coração, que se entristeçe com a distância.
Mas o que me conforta é que a palavra diz que todo esse vale está me moldando para a benção maior que meu Deus tem reservado para mim, sou um vaso quebrado e o oleiro está me remontando, se ainda há lágrimas a serem derramadas, eu as derramarei, minhas lágrimas não serão em vão, elas se transformarão em bálsamos que perfumarão a minha vitória, os meus caminhos, a minha vida.
Tenho a certeza que há uma luz no fim deste vale e essa luz, repleta de vitórias, me aguarda, e eu, ansiosa, frágil, esvaindo-me em lágrimas, mas confiante nas promessas, atravesso o meu vale para cair nos braços do Pai.
Que Deus continue a me acompanhar e não solte a minha mão, para que a travessia se torne mais breve e daqui ha algum tempo se torne apenas uma vaga lembrança e que só servirá de aprendizado...
Amém. 


terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Uma Nordestina no Rio Grande do Sul...

No verão de 1991, tinha uns vinte anos, morava em Porto Alegre e por causa do plano Collor eu, assim como milhares de Brasileiros, estava desempregada, então minha ex-chefe de setor, que aqui chamarei de Gladz, me pediu que acompanhasse seus filhos menores de idade, em sua casa de praia durante o verão, a casa era pequena, confortável, fica na praia de Cidreira, uma das mais belas do RS.
Já tinha mais ou menos 02 anos que não ia a uma praia, então me sentia no paraíso, estava louca de saudades das praias maranhenses, acordava já a carater, de biquini; a casa ficava a duas quadras da praia então bastava andar cem metros e lá estava o mar, lindo e maravilhoso.
O mês de janeiro se passou. De manhã praia, a tarde praia, e à noite os meninos que eu "cuidava", o que era desnecessário porque eram adolescentes super responsáveis, eles faziam pequenas reuniões para os amigos que haviam feito ou que reencontraram do verão passado e eu apenas observava, as vezes me sentindo a "velha" da casa, atravessava a rua e me sentava na calçada.
Chegado o mês de fevereiro a casa encheu, eram amigos de Gladz, pessoais ou do escritório, tudo era festa, tinha colchonetes espalhados por toda parte, a casa nunca ficava vazia, sempre tinha alguem cozinhando alguma coisa, parecia a casa do "BBB", e eu lá, uniformizada de roupa de praia, estava bom demais, passava o dia jogando volei ou passeando na praia.
Os jovens da casa se prepararam para o carnaval, compramos ingressos para o clube mais badalado e caro da cidade, nós meninas fomos às compras, short's e blusas para compor o visual, eu estava negra, meu bronzeado estava de dar inveja às amigas gaúchas, elas todas branquinhas, loirinhas, eu estava arrasando!
Como todos os dias, na sexta de carnaval levantamos e já fomos para a praia, qd eu voltei ao meio dia, sentia uma sêde fora do comum e muito calor, só não voltei para a praia depois do almoço porque tinha que lavar minhas roupas, o que acalmou um pouco o calor que sentia.
A noite chegou, era um alvoroço só, as meninas se maquiando os rapazes se arrumando, eu não precisei me maquiar, minha cor era tudo; estava me sentindo um pouco cansada, mas nada me faria desistir do grande baile (ou quase nada).
Passamos quase uma hora na fila pra entrar no clube, mas conseguimos entrar, a banda era maravilhosa, a decoração estava linda, mas minha cabeça estava quase explodindo, estava ensopada de suor, meu cabelo estava grudado na cabeça como se tivesse jogado um balde d'agua em cima de mim, já passava de meia noite eu decidí sair, meus amigos se preocuparam, mas eu os tranquilizei, disse que iria pra casa.
Quando saí do clube, que o vento bateu em mim sentí frio e percebí que devia estar com febre, começei a andar na direção de casa, mas minha cabeça doía muito, teve uma hora que sentí vontade de vomitar, foi então que um carro da Brigada Militar(PM do RS) parou perto de mim e os Brigadianos me deram uma carona até em casa, em outra ocasião ter a atenção de brigadianos só pra mim, seria a glória, mas eu estava me sentindo muito mal, nem olhei a cara deles, além do que eles deviam estar achando que eu estava bêbada. Em casa Gladz estranhou minha volta, mas me deu um remédio pra dor e enjôo, eu tomei um banho e fui dormir.
Na manhã seguinte, eu abrí os olhos, mas estava tão cansada que resolví ficar deitada, eu ouvia as vozes do lado de fora do quarto mas não conseguia me levantar, foi então que ouví a voz de Gladz perguntando por mim, ela entrou no quarto e qd me olhou quase teve um treco, eu estava totalmente inchada, vermelha, eu estava com insolação! Fui levada as pressas ao hospital de "turistas",(lá no RS, nas cidades praianas eles têm hospitais para turistas que exageram) agora imaginem vocês, uma nordestina acostumada ao sol desde que nasceu, foi ter insolação lá no Sul, que vergonha!
Passei o dia internada tomando soro para reihidratar, qd saí do hospital à tarde, a recomendação do médico era repouso absoluto, acabou carnaval, acabou praia, não podia ter nem uma exposição ao sol, teria que usar mangas compridas e boné qd saisse ao sol, parecia uma "ET", então nem preciso dizer que não saia de casa por nada, né?...rsrsrs.
E foi assim que uma nordestina, uma "RATA" de praia foi pegar insolação no RS.
bjs.