segunda-feira, 5 de novembro de 2012

ENFIM DESCANSOU...



Já se passaram 115 dias desde que minha mãe faleceu,  no leito 17 da enfermaria 103, do HOSPITAL ALDENORA BELLO. dia 13 de julho de 2012.
Aquela foi uma semana difícil para nós filhos, pois além de termos que lidar com a dor de estarmos perdendo a nossa mãe, tínhamos que lidar também, com as críticas dos parentes, que acham até hoje, que abandonamos nossa mãe, à sua própria sorte.
Minha mãe sempre foi uma mulher de personalidade muito forte, dominadora, quando ela queria, ela sabia ser muito dura.
E a doença, ( ela passou os últimos 08 anos lutando contra um câncer no reto), bom, a doença, a deixou mais rancorosa, culpava-nos por essa doença, culpava nosso pai, culpava a todos, ela queria nos fazer sofrer mais do já estávamos sofrendo, chegamos até a pensar que a vida dura de ter criado 09 filhos sozinha, poderia ter contribuído para a doença, então estávamos nos sentindo culpados mesmo. Mas, uma visita ao seu proctologista nos aliviou, ele nos contou que 15 anos antes avisara a ela que ela deveria usar uma bolsa de colostomia, para descansar o canal do reto e assim cicatrizar pequena rachaduras no mesmo, mas ela por vaidade declarou ao médico: "EU MESMA NÃO VOU ANDAR POR AÍ COM UMA BOLSA DE COCÔ NA CINTURA", e nunca mais voltou ao médico, retornando só em 2004, época do primeiro diagnóstico, sendo que então, ela iria usar a bolsa de colostomia PARA O RESTO DE SUA VIDA.
Minha mãe era assim, ela tomava as decisões e pronto! não importava as consequências, a doença a endureceu mais ainda, mas ela tinha o talento de manipular os sentimentos das pessoas usando sua doença, ela fez isso no início pra jogar um irmão contra o outro, nós brigamos muito entre nós, mais terrível que brigar foi descobrir que ela fazia isso com prazer, é horrível pra você que está lendo isso, mas é a pura verdade.
Com muita conversa entre nós AS IRMÃS, detectamos isso na nossa mãe, então, já sabendo dessa faceta, paramos de brigar e nos unimos tentando entender o porque dela fazer isso.
Mas nossos irmãos, por serem caminhoneiros passavam muito tempo viajando, só ficando na cidade esporadicamente, o que pra ela era um prato cheio, nossas cunhadas eram nossas aliadas, por milhões de vezes apaziguaram as brigas entre nós irmãs com os irmãos, sempre dizendo a eles A HISTÓRIA NÃO É BEM ESSA,  DONA RAIMUNDA ESTÁ EXAGERANDO. brigamos muito, mas muito mesmo com eles para que eles tentassem ver o nosso lado da história, com um, conseguimos reverter o mal entendido, mas perdemos o outro irmão, desde a morte dela, ele nunca mais ligou, nem apareceu, também acha que nós a abandonamos para morrer sozinha.
Houve também muitos desentendimentos entre os irmãos dela, os filhos dos irmãos dela, eles todos nos odeiam, somos as piores filhas do mundo... isso dói, mas dói bem menos do que perder o amor daquele irmão.
Naquela semana que antecedeu ao 13 de julho, ela mudou bastante, sentiu que a morte se aproximava, pediu perdão para todas nós, uma a uma, cada uma do seu jeito, mas o mal entendido entre a família dela e nós irmãs, bem, esse não deu tempo dela desfazer.
Ela nunca foi uma pessoa fácil de lidar, mas era nossa mãe, e nós a amávamos muito, foram anos difíceis pra gente, pra mim em particular, eu e ela éramos muito parecidas, o que fazia com que nós duas brigássemos com mais frequência.
Eu era quem conseguia enfrentá-la e na ausência dos meus irmãos mais velhos, era a mim ela ouvia (obedecia) um pouco mais, então quando algo acontecia, era pra mim que as minhas irmãs reclamavam, e era eu que ia  até ela "ralhar" com ela...
Com isso, eu era a que mais ficava brigada com ela, também me tornei o alvo das críticas e ódio das tias e primos.
Naquela semana que antecedeu sua morte, FIZEMOS as pazes, pedimos perdão uma a outra, mas aí, ela se foi.
Minha mãe sempre dizia que tinha medo de, por causa da doença, "morrer fedendo e gritando de dor", me lembro que um dia desses, quando ela já não estava mais falando, eu cochichei no ouvido dela: "MÃE, NÃO SE PREOCUPE, A SENHORA NÃO ESTÁ FEDENDO, PELO CONTRÁRIO, ESTÁ BEM CHEIROSA, E NÃO VAMOS PERMITIR QUE SINTA DOR DE JEITO NENHUM".
Eu fiquei naquela noite com a minha irmã, ao lado da cama dela, às 19hs ela entrou em agonia, colocaram a máscara de oxigênio, minha irmã chorava copiosamente, eu tentava me manter calma, seria necessário a qualquer momento. Os outros irmão montaram campana na casa do caçula perto do hospital...
Eram 23:10hs, quando minha irmã me chamou: ELA TÁ MORRENDO!, eu que estava cochilando na cadeira com a cabeça recostada na cama, espertei, me levantei e liguei a luz do quarto, ainda vi ela dá o ultimo suspiro e fechou os olhos...
Fui eu que deu os telefonemas chamando meus irmãos, depois, tudo foi se desenrolando, não tive tempo de chorar, nem no velório nem no enterro...
Mas em casa, nos braços de minhas filhas eu choro, choro muito, de saudades, de remorsos, me questiono se fui ou não boa filha, se sou ou não uma boa mãe... ainda sinto o cheiro dos cabelos dela, ainda lembro do cheiro bom de mãe que ela exalava, se errei, agora não tem mais jeito, ela se foi, as vezes acho que ela só está viajando e que a qualquer momento vai ligar dizendo VOLTEI!...
Mas ela não vai voltar... devo me acostumar com isso...
115 dias sem ela, tem dia que dói mais, tem dia que dói menos, mas TODO dia dói.
bjs.


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