sábado, 14 de janeiro de 2012

AMIZADE E INOCÊNCIA...



Ontem a noite eu observava minha filha caçula brincar com a prima da mesma idade, ambas com 10 anos. Fiquei imaginando o que tanto conversam, eram muitos risos, gritinhos, e mais risos.
De madrugada acordei me lembrando que em 1981 tinha uma amiga, que tinha a minha idade, 11 anos, o nome dela era Angela, nossas mães eram colegas de serviço e quando nos mudamos para o mesmo bairro que elas e fui matriculada na mesma escola, ficamos na mesma sala, no turno da manhã, na saída conversando e indo na mesma direção foi que descobrimos as coincidencias, as afinidades nos uniram e a amizade foi certeira, íamos juntas, sentávamos juntas na sala, voltávamos juntas, Angela era tímida, mas muito inteligente, entendia com facilidade as aulas de matemática e me ajudava a compreende-las.
Mas a nossa escola não era perto de casa, então as vezes, o pai dela dava dinheiro pra ela ir de onibus,  algumas vezes ela pagava a minha passagem, outras vezes não.
nos despedimos nesse dia e ela perguntou se eu queria ir de onibus com ela no outro dia, eu disse que não por que teria que ir em algum lugar antes da aula, então no dia seguinte quando cheguei na aula ela não estava, eu estranhei por que ela nunca faltava, cheguei em casa tomei um banho e almoçei, pensei, mais tarde levo as atividades pra ela, depois do almoço me deitei.
Não tinha muito tempo que estava deitada e o irmão de Angela chegou lá em casa procurando por minha mãe.  _ D.RaimundA, mamãe pediu pra senhora ir tirar o plantão dela por que minha irmã Angela está no hospital internada.
Eu ouví mas, inocente, concluí que seria alguma gripe ou coisa assim.
Anoiteceu e minha mãe já se arrumava para ir dar o plantão para amiga, quando o mesmo menino chegou chorando lá em casa. _ D. Raimunda, mamãe mandou avisar que minha irmã Angela morreu. Ele saiu correndo logo em seguida, ela já estava na hora de ir pra maternidade onde trabalhava, ela só me olhou e disse pra eu ir me deitar, que no outro dia deixaria eu ir ao enterro.
Fui me deitar com um turbilhão de conflitos na cabeça, como ela morreu se nos falamos ontem? não acreditava, então nem chorei.
Na manhã seguinte mamãe chegou do plantão, foi até suas roseiras e colheu todas, não deixou nenhuma no pé, e ela sempre teve muito ciumes dessas roseiras, arrumou tudo em uma bandeja, mandou eu me arrumar e me mandou ir para o enterro de Angela. Quando cheguei lá a irmã mais velha dela me levou até a mãe, que me abraçou chorando muito, e repetia, ''nossa Angela se foi'', entreguei as rosas que mamãe mandou e fui olhar a minha amiga no caixão, ela vestia seu vestido branco da primeira comunhão, cerimônia tradicional católica, tinha um véu e tudo mais, parecia uma noiva, eu achei a visão mais linda que já tinha visto nesses meus 11 anos.
Lá fiquei sabendo o que acontecera, ela estava no onibus indo para a escola quando começou a sentir uma dor de cabeça, começou a gritar, gritar, e desmaiou, ela estava tendo um A.V.C.(Acidente Vascular Cerebral) na época conhecido por ''derrame cerebral'', o motorista do onibus mandou todos que quisessem descer, então ele foi direto para o hospital, mas ela já estava em coma e não resistiu...
Nunca esquecí dessa amiga, hoje não lembro mais do seu rosto, mas ficou a figura angelical dela no caixão, que guardo com carinho no coração.
Na época questionava a mim mesma ''porque voce não estava lá com ela?'', hoje agradeço a DEUS por não estar lá com ela na hora de sua crise, pois assim poderia gravar na lembrança apenas seu rostinho angelical....
Beijos e até a próxima.

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