Este fato aconteceu pouco depois do meu pai ter nos deixado, acho que tinha uns 05 anos, morávamos na cohab.
As coisas não foram fáceis para a minha mãe quando meu pai foi embora, porque ela quando casou deixou de trabalhar fora para ajuda-lo no comercio dele, então depois de quase 18 anos sem carteira assinada, voltar para o mercado de trabalho nos anos 70, era algo muito complicado.
Primeiro ela começou a vender suas jóias, tudo o que havia sobrado do seu conturbado casamento com meu pai, quando não havia mais jóias ela começou a vender suas louças, eram peças de qualidade, mas de nada servia se não tínhamos o que comer, depois das louças e prataria, ela começou a vender os móveis, me lembro muito bem de uma "petisqueira", era um móvel lindo, com portas de vidro todo trabalhado, madeira talhada manualmente, onde ela guardava suas louças, suas taças ficavam penduradas, era algo que não se vê hoje em dia, e assim tudo de dentro de casa foi saindo, a casa foi ficando vazia, e consequentemente maior, a vantagem para mim, eu pensava, era que podia correr à vontade que ninguém mais brigaria, não tinha o que quebrar dentro de casa.
Mas chegou o dia em que não havia mais nada a vender dentro da nossa casa, e meu pai se recusava a dar pensão alimentícia para nós, quando ele se foi disse que," quem quisesse comer teria que ir morar com ele", mas éramos pequenos e amávamos muito a nossa mãe para abandoná-la e nessa época a sociedade era ultra-machista, o homem podia fazer o que quisesse que a justiça ainda dava razão pra ele, aquela famosa frase "EM BRIGA DE MARIDO E MULHER, NINGUÉM METE A COLHER", com isso quem sofria éramos nós.
Então certo dia minha mãe fez o que muitos nordestinos fazem, foi tentar a sorte na cidade grande, ela tinha uma amiga que morava em São Paulo e a convidou para ir pra lá, ela iria na frente e depois mandaria nos buscar.
Naquela manhã acordei com minhas irmãs mais velhas choramingando, minha mãe arrumava as malas, eu não entendia muito o que estava acontecendo mas fiquei triste com o choro das meninas, a minha irmã caçula estava com meus avós, então eu era a menor, ouví quando minha mãe mandou meu irmão Dino chamar um taxi pra ela, eu achei que ia andar de carro e fiquei toda serelepe, andando de um lado para o outro, esperando o taxi, quando o taxi chegou minhas irmãs recomeçaram o choro, alguma coisa estava errada, então nós não íamos com ela?
as malas foram colocadas no porta malas e ela então começou a chorar e abraçar a todos abençoando, na minha vez, começei a chorar que queria ir junto, ela então me deu umas moedinha e me mandou comprar uma balinha, eu perguntei se ela ia me esperar ela disse que sim, eu corri para a quitanda e quando já estava voltando ví o taxi indo embora, começei a correr chorando atrás do taxi, quanto mais eu corria mais ele ficava distante de mim, eu chamava por ela, dizia _Mãe, me espera_ mas o táxi ia sumindo, descendo a avenida 14, sentí apenas quando alguém me carregou, não lembro qual dos meus irmãos, eu chorava copiosamente, pois ela havia dito que iria me esperar, eu não queria mais a bala, eu queria minha mãe.
Fui levada pra casa mas nada me consolava, dias depois meu avô querido, foi me buscar para ficar na casa de minha tia Fáfá, foi quem me encheu de carinho e mimos tentando compensar a falta que mamãe fazia.
Quando crescí prometí que quando tivesse meus filhos nunca enganaria a eles quando perguntassem onde eu iria, eu sempre responderia com a verdade, nunca diria que os levaria se não fosse possível levá-los.
Pois foi algo que ficou marcado, a visão daquele taxi indo embora com a minha mãe dentro. Achei que nunca mais fosse ve-la, e aquela sensação de que ela havia mentido pra mim me deixou muito triste; meses depois ela voltou, não tinha dado certo o que ela planejara em São Paulo.
Mas a volta dela já é outra história....depois conto pra voces.
bjs.
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