sábado, 11 de dezembro de 2010

"Eu, a pipa e o Burro"


  Quando eu tinha 08 anos, morávamos em uma casinha de barro na rua militar no Bairro do Anil, lá ainda era só mato, minha mãe trabalhava em uma Maternidade próxima, e quando a minha irmã Nini estava para a escola, quem tinha de cuidar de mim eram os meus irmãos Dino e Divino, mas como todo garoto normal, amavam jogar bola, empinar papagaio (pipa), então o jeito era me levar junto.

Aqui no Maranhão, chamamos as pipas menores de papagaio e como na natureza tem uma espécie de papagaio que é bem pequeno que se chama "curica", então a gente fazia em casa uma pipa bem pequena, de folha de caderno mesmo, e a essa pipa chamávamos de "curica".
Bom, eu aprendi a fazer minhas curicas sozinha, eles me davam linha, para me manter quieta enquanto eles iam jogar bola, as empinava  na porta de casa e isso me mantinha longe de encrecas, ou quase...
É, mas nas imediações da nossa rua tinha um burro que quando não estava atrelado à carroça, o dono deixava solto, e ele era arisco, os meninos da rua sabiam e o atiçavam para que ele corresse atrás deles, áh, isso pra eles era diversão.
Uma tarde estava eu empinando uma das minhas curicas, ela estava alta, já estava no 2º tubo de linha, comigo estava minha irmã Didilha, que também empinava uma modesta curica com pouca linha, meus irmãos jogavam bola num campinho lá perto, o burro foi passando pelo campinho e como sempre os meninos o atiçaram, e adivinhem, ele resolveu descer a rua correndo e na minha direção, os meninos começaram a gritar _sai da frente!burro bravo!_ Didilha soltou a curica dela e correu pra casa, e eu começei a enrolar a linha, não queria perder a minha curica, e ignorei os gritos dos meninos, só larguei a linha quando Dino passou por mim correndo _Corre!corre!corre!_  e me deu um puxão no braço, eu começei a correr mas o burro estava bem perto de mim, já podia até sentir o bafo dele na minha nuca, quanto mais eu corria mais ele me alcançava, a rua era de descida, foi então que ví Dino vindo na minha direção com uma vassoura e gritando _Dá a volta no poste!_ eu olhei um poste bem na frente e não pensei duas vezes, segurei o poste e dei a volta e dino enxotou o burro com a vassoura.
Estava tão assustada, que só depois percebí que na hora de segurar o poste arranhei meu braço no concreto e meu braço estava sangrando, minha irmã Nini quase teve um treco quando viu, foi me dar banho e chorava junto comigo porque ardia demais.
Nesse dia fui dormir mais cedo, pra que minha mãe não visse, mas no outro dia ela viu, pois doía muito e não conseguia mexer o braço, e a bronca foi para os meninos, mas assim que o braço ficou bom, voltei a empinar minhas curicas....e o burro? sumiu, acho que morreu, pois não vimos mais ele, ainda bem. Até hoje quando olho um burro solto me dá medo e sempre passo por longe...Melhor prevenir, né?

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